A atividade de garimpo na Amazônia vem sendo bastante discutida ultimamente. Mas você sabe a real importância e profundidade desse assunto quando pensamos em impactos ambientais?
Na Amazônia, particularmente, os impactos gerados pelo garimpo são na saúde da população indígena, na violência, na contaminação de água e solo, na degradação de florestas e nas exportações ilegais.
O garimpo na Amazônia, atividade mineradora feita de forma artesanal, diferente da mineração, aumentou muito nos últimos anos. De acordo com pesquisas realizadas, o garimpo ilegal em terras indígenas na Amazônia aumentou cerca de 1.217% em 35 anos. Um estudo, realizado por pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e da Universidade do sul do Alabama, Estados Unidos, apontou que 95% do garimpo ilegal fica concentrado em três terras indígenas: Kayapó, Munduruku e Yanomami, e isso tem afetado diretamente a vida dos indígenas e populações locais, além de causar muitos danos ao meio ambiente.
No Brasil, o garimpo em terras demarcadas, terras indígenas ou unidades protegidas é ilegal.
As atividades de garimpo na Amazônia não são recentes: o garimpo começou no século XVI, quando cartas enviadas à Coroa portuguesa pelos colonos avisavam sobre a presença de “pedras que brilham”, chamadas de “itaberabas”. Na década de 1970 que houve um aumento das extrações. Isso se deu pela valorização do ouro, da ampliação dos projetos de integração do território nacional e a identificação de áreas que são propícias ao garimpo, terras localizadas ao longo das margens dos rios amazônicos. O desenvolvimento do sistema de rádio e acesso de pequenos aviões também contribuíram para o aumento da exploração de regiões cada vez mais remotas. No início dos anos 90, mais de 60% da produção nacional era proveniente da Amazônia.
Infelizmente tudo isso sempre foi e continua sendo palco para conflitos de terra e direitos, impulsionados por questões políticas e econômicas. Em 2011 o número de conflitos violentos entre garimpeiros e indígenas foi de apenas 1, em 2021 esse número subiu para 81, houve um aumento de 80.000%, esse dado foi levantado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), segundo o relatório Conflitos no Campo Brasil 2021, a atividade dos garimpos foram responsáveis por 92% das mortes registradas nesse estudo.
Os povos indígenas são afetados de várias formas… Além da violência, acabam tendo suas terras tomadas, suas moradias destruídas e seus rios e terras poluídos por substâncias tóxicas.
Há algum tempo os índios Yanomamis vem pedindo por ajuda federal.
“O garimpo vai justamente atacar a cadeia alimentar básica dos yanomami. Eles são um povo de mobilidade territorial, vivem da caça, da pesca, da coleta e da agricultura. Nada mais triste, então, do que um caçador yanomami não ter caça para suprir a família”, explica a antropóloga Maria Auxiliadora Lima de Carvalho.
Além do problema de falta de caça e pesca, contaminação do solo e da água e falta de assistência médica, outros fatores tornam a situação assustadora, como o aumento do consumo de álcool influenciado pelos garimpeiros, e até mesmo investigações de mulheres da tribo que estão grávidas por supostos casos de violência sexual. Podemos considerar o cenário como uma verdadeira crise humanitária.
Em termos ambientais, consideramos principalmente a poluição e o assoreamento de rios: por um lado o acúmulo de terra, sujeiras, detritos no fundo e, por outro, a enorme quantidade de mercúrio que é jogado na água, para ajudar a enxergar onde está o ouro. Uma desgraça para fauna e flora da região!
“A contaminação por mercúrio pode provocar complicações como distúrbios neurológicos, problemas renais, no fígado, na pele e nos sistemas reprodutor e imunológico. O excesso de mercúrio no organismo de mulheres grávidas também pode causar malformações fetais e morte do bebê” (Intoxicação por mercúrio: o que fazer e complicações – Tua Saúde (tuasaude.com)
Em questões de solo, o garimpo desmata a região causando consequências na fauna e flora, diminuindo a biodiversidade, erosão e desertificação do solo, que influenciam em todo o ecossistema e na alteração do clima, situação de extrema gravidade, se considerarmos a biodiversidade amazônica.
Quando pensamos em possíveis soluções, passamos pelo primeiro ponto importante: trazer informação. Primeiro divulgando o que de fato vem ocorrendo, chamando a atenção para que as pessoas tenham consciência e também atraindo o olhar de grandes empresas, ONGs e organizações ambientais e políticas de preservação.
“Os centros de educação poderiam examinar medidas para reduzir dois sérios problemas ambientais associados à garimpagem de ouro: o aumento de turbidez dos rios provocado pela liberação de rejeitos de sedimentos e a emissão de mercúrio para o ar, solo e rios.
A liberação de rejeitos de sedimentos pode ser amplamente reduzida pelo simples direcionamento da caixa concentradora para as bacias de decantação (trincheiras). Após um dia, as partículas finas suspensas na água assentam-se no fundo, permitindo que a água limpa seja canalizada para o rio principal (Conceição, 1991). Após a trincheira ter sido preenchida com as partículas finas, acrescenta-se areia para aumentar a textura do solo e, em seguida, pode-se plantar árvores frutíferas adaptáveis como cajueiros e goiabeiras. O sucesso do plantio de árvores em solos trabalhados pela mineração foi documentado na bacia do rio Trombetas.
O problema da liberação de mercúrio pode ser solucionado pelo uso de trapa na caixa concentradora e retorta para queima do ouro (Priester et al., 1992). Essas técnicas de baixo custo reduzem a perda de mercúrio. O uso da retorta ocasiona a retenção de 95% a 97% do mercúrio utilizado na separação do ouro pelo aquecimento da amálgama mercúrio-ouro em uma câmara fechada”
Impactos da Garimpagem de Ouro na Amazônia (n° 2) – Imazon
Vale assistir essa reportagem compartilhada no canal da BBC para que você veja um pouco mais sobre a verdadeira realidade que acontece hoje na Amazônia: Ouro de Sangue: para onde vai o ouro ilegal garimpado na Amazônia? – YouTube