Slow fashion: um novo conceito de consumo para se vestir

Se te perguntarem qual a quantidade de lixo que você gera todos os anos, quais são os principais itens que você vai colocar na sua lista? Alimentos, embalagens, papel higiênico, copos plásticos? Mas você já parou para pensar para onde vão as roupas velhas que você não quer mais? A resposta é: para o mesmo destino de todo o lixo citado acima… E sendo responsável pelos mesmos tipos de impactos ambientais tão prejudiciais ao nosso planeta. 

Pensando em como mudar essa realidade e de que forma dar um novo rumo à essa quantidade imensa de peças – que inclui roupas, sapatos, bolsas e acessórios – um novo conceito surgiu através de Kate Fletcher, consultora e professora de design sustentável do “Centre for Sustainable Fashion”, na Inglaterra: o slow fashion, traduzido, ao pé da letra, por “moda devagar”, que se inspirou no movimento slow food criado na Itália na década de 90.

O slow fashion vem seguindo na contramão da ideia de um consumo desenfreado, apoiado por um modelo capitalista bem estruturado pelas grandes corporações e disseminado através do fast fashion – o modelo que estamos acostumados a encontrar nas lojas e shoppings centers ao redor do mundo: roupas que fazem parte de coleções de acordo com as estações e que saem “de moda” quase tão rápido quanto entraram. A prioridade aqui é o consumo rápido, a fabricação em massa, a alta rotatividade de modelos e coleções, o apelo visual, a necessidade do novo, de fazer parte de uma comunidade, de suprir questões emocionais dos consumidores que encontram prazer e satisfação em acumular mais peças, bem como o incentivo a grandes ofertas e promoções. Além disso, quem produz tudo isso oculta muitas vezes os aspectos sociais envolvidos, e aqui podemos considerar até mesmo mão de obra escrava e trabalho infantil.

Valorização da cultura e dos recursos locais e naturais em conjunto com o respeito pelo meio ambiente: essa é a proposta do slow fashion. O movimento também preza pela transparência na produção da roupa, e isso vai estreitando o vínculo entre o produtor e o consumidor. Você sabe quem fez a sua roupa e como foi feita, o que contribui muito com o incentivo ao trabalho digno e respeitoso, de acordo com as leis vigentes. 

Marcus Loke // Unsplash

Geralmente as coleções são pequenas, com preços justos e peças com maior durabilidade, pois usam material de qualidade superior e são produzidas com maior cuidado. Pouco sobra para descarte pois procura-se utilizar todo o material. 

Já o mercado têxtil “comum” está em segundo lugar no ranking de maior gerador de resíduos para o planeta, ficando atrás apenas da indústria petrolífera…

Quer um exemplo básico? Uma análise realizada recentemente pelo Instituto Modefica e pela Fundação Getúlio Vargas constatou que 16 caminhões saem todos os dias da famosa região do Brás, em São Paulo, lotados de resíduos têxtil. Isso equivale a 45 toneladas todos os dias… 

Se todos os dias produzimos isso, em uma pequena região da cidade de São Paulo, qual é o impacto desse acúmulo ao longo de anos, considerando todo o nosso planeta? Quantos pares de tênis e sapatos você teve desde quando era criança? Qual o tamanho da sala que eles ocupariam? Pensa nisso em larga escala… Assusta, não é?

Outro grande impacto que temos dentro desse tema é a quantidade de poliéster que fabricamos e consequentemente, descartamos. Ele é muito utilizado na indústria têxtil, por ser uma liga carbônica sintética extraída do petróleo e transformada em pequenas fibras que simulam o tecido. Tem baixo custo em relação às alternativas naturais, como o algodão, mas uma decomposição muito mais lenta: cerca de 400 anos! E os impactos já começam desde a sua produção, em que são emitidos compostos orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio, ambos considerados extremamente tóxicos para a natureza, para os animais e para nós, seres humanos. 

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Tamara Bellis // Unsplash

Todas essas questões nos fazem repensar nosso consumo… Sabemos que as mudanças não ocorrem instantaneamente, mas você pode fazer parte desse movimento e mais: disseminar essa informação e essa consciência para as suas redes de amigos e familiares. 

Dê valor às suas roupas, cuide delas: lembre-se que há matéria vinda do seu planeta para produzi-las! Questione quem fez, como foi feita, qual o material utilizado, onde foi plantado, colhido, costurado, armazenado, quem colocou as mãos para que aquilo chegasse até você… Procure ver o posicionamento da loja, da marca, do estilista… Existe um real engajamento com as questões ambientais? 

E lembre-se: comprar em brechós, sites colaborativos, frequentar feiras de trocas, ter um armário reduzido, pode ser um manancial de novas opções e novas ideias, além de ajudar nesse movimento todo proposto pelo slow fashion.  

Vale também conhecer o movimento Fashion Revolution, um movimento global sem fins lucrativos representado pela The Fashion Revolution Foundation e pelo Fashion Revolution CIC que busca trazer mais consciência sobre os impactos socioambientais, fomentar a sustentabilidade e mostrar quem faz a sua roupa que te veste!

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